O teto e as paredes uniam-se sem arestas, caladas, de braços cruzados. A sensação era a de que estivesse dentro de um casulo. Deitado espiava o teto branco - sem pensamentos, sem emoção - uma coisa olhava a outra. Aos poucos, num balançar dos pés, nasceu-lhe longinquamente a consciência. O luar empalidecia o quarto e a cama. De instante a instante, de repente, algo brotava no interior de sua mente. O teto e as paredes paradas o coração ritmado e o pensamento parecia clarear. O que lhe incomodava era esse imenso tempo presente que parecia não terminar, mesmo sabendo que o instante atual passara a ser o anterior. A velocidade do tempo era inversamente proporcional a realização de fatos. As coisas não mudavam, as formas permaneciam as mesmas. Tudo cristalizado. Talvez, a dificuldade com a realidade fosse a sua pior alucinação. E assim continuava a espera. Ele insiste. Aguarda o próximo instante. Diante da noite densa e escura ele, na dúvida, resolveu confiar-lhe a última chance com a esperança de que tudo mude. Talvez, ilusoriamente, estivesse acreditando na existência de algo. Porém, a materialidade do que se tinha comprovava que só o que está morto não muda.
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